O RITMO LOUCO: NASCEU SEM QUERER?
Aos 13 anos frequentava a Escola Comercial e Industrial, e com o Miguel Machado formamos um dueto de gaitas de beiço para participar numa recita escolar.
Depois desta exibição apareceu um terceiro colega de seu nome Fernando Silva, este depois de integrado trouxe ate nós o João “Pitada” que também tocava gaita-de-beiços, mas de acompanhamento cuja designação era ecofone.
Nos primeiros encontros, o João revelou que também tocava viola e que conhecia outro rapaz de nome Alberto Ferreira que dominava a gaita tao bem ou melhor que nos, mas tinha um inconveniente de ser um noctívago.
Aí verifiquei que os outros me consideravam um menino rico, que talvez não quisessem junto a nós, um rapaz que não trabalhava. Mas o Alberto era um bom rapaz, junto de nós arranjou um emprego que garantiu o futuro.
Começamos a frequentar o Café Mourão e aí foi que nasceu o Ritmo Louco, também aderiu ao Ritmo o João Machado irmão do Miguel. Juntou-se a nós o Abel Sampaio, António Augusto, o Manuel Barbosa e muitos outros como Gomes de Oliveira. Foi quando se deu o nome ao grupo do qual foi padrinho o António Augusto, que nos apontou o titulo do Filme de Fred Astaire e Ginger Roge’r, que era Ritmo Louco. O autor do emblema foi o Alberto Ferreira e as cores escolhidas foram a da França livre pois éramos todos aliadófilos.
Numa noite de Romaria de S. Torcato juntou-se a nós Damião Braga que começou por cantar e tornou-se exímio na gaita-de-beiços. Nesta altura já faziamos sucesso com exibições na cabine sonora do Jardim Publico. Neste embrião tivemos dois magníficos colaboradores, o Luis Alves de Sousa e Francisco da Cunha Mourão, ambos nos ajudaram com donativos que conseguiam, o Luis junto dos fornecedores do Parrameco e o simpático Mourão no próprio café empunhando uma lista percorrendo o mesmo de lés a lés entregando geralmente as quantias de 1.000$00 ou 1.500$00. Era assim que renovamos as harmónicas.
Claro que como eramos novos damos muito uso as gaitas. Não entrando em pormenores pais o espaço e pouco, veio ter connosco um rapaz que pretendia fazer ilusionismo o qual num passo de magia apareceu a tocar gaita-de-beiços e mais tarde viola. Este por sua vez trouxe outro que tocava banjolim, mas depois agarrou-se a gaita.
O primeiro era o Jaime Xavier e o segundo era o António Xavier, sobrenomes iguais mas não familiares, apenas amigos do peito, encaixaram no Ritmo como uma luva. E eis que aparece junto de nós, um mago Luis de Almeida que se tornou bom na gaita, no canto, na repercussão e um excelente locutor e formidável animador.
Sempre nos acompanhou nos espetáculos o Mário Dias que fazia locução, recitativos e sket’s cómicos.
Daí por diante já na Rua de Santo António apareceram imensos rapazes que formaram vários conjuntos, com saliência especial para os Raker’s e o Tres do Ritmo e o Trio de gaitas-de-beiços do qual faziam parte o António Xavier, o Jaime Xavier e o Mário Martins, perdoem-me os outros conjuntos por não me lembrar dos outros nomes. Já vinha de alguns anos atras a Secção de fados e Guitarradas, do qual fizeram parte o José Soares, António Caxiço, o Neca Guimarães, Domingos Almeida, Afonso Costa, Francisco Garcia, Sebastião Terrinha, Jerónimo Rodrigues nas cordas e Maria Humberto Teixeira, Lucínio
Barbosa, António Augusto, Lotário José e Joaquim Almeida o “Toureiro”.
0 Ritmo Louco, nasceu sem querer! …
Assim foi, sem querer, que nasceu uma coletividade que hoje da pelo nome de Circulo de Arte e Recreio da qual muito nos orgulhamos.