Casa de Agra

A situação da Casa de Agra em Guimarães

Guimarães é uma cidade com um rico espólio patrimonial construído de reconhecido qualidade cultural.

Vários são os edifícios, recantos e valores aos quais é reconhecida uma vontade pública de preservação várias vezes consubstanciada quer em atitudes de defesa da comunidade quer em deliberações municipais á medida das necessidades.

Hoje em dia é de reconhecido prestígio o trabalho de restauro e recuperação do núcleo da cidade intramuros, potenciado já no sentido de concorrer dada a sua qualidade a Património Mundial.

No entanto ainda haverá outras zonas da cidade a merecer uma intenção claramente ‘definida e orientada para a sua defesa e preservação. Está neste caso a zona de Santa Luzia.

Situada na velha estrada medieval Guimarães-Braga, a Casa de Agra enquadra-se num velho conjunto arquitectónico urbano séc. XVIII e XIX de alguma valia e com tradições etno-culturais que salientamos:

  • As residências de alguns ilustres Vimaranenses ao longo das diferentes épocas como o Visconde de Santa Luzia, o republicano Ribeiro de Freitas e o médico humanista Mário Dias entre outros;
  • A Capela de Santa Luzia situada mesmo em frente da Casa de Agra onde se realiza uma original romaria no mês de Dezembro em louvor da protetora dos cegos e madrinha do namoror brejeiro dos rapazes e raparigas: “a romaria dos sardões e das passarinhas”;
  • A Capela do Picoto situada no alto do escadório do Picoto e dedicada ao Senhor dos Aflitos e pertenceu nas origens a Casa de Agra. No início deste século passou a guarda dos ainda residentes na viela do Picoto. No séc. XVIII os devotos realizavam por altura dos Santos uma Romagem com Ladaínhas;
  • A Queima do Judas e uma representação popular levada a cabo pelo Círculo de Arte e Recreio no Largo de Santa Luzia. É o exemplo entre outros de iniciativas culturais promovidas realizadas por instituições e associações com o objetivo de animação turístico-cultural de espaços urbanos da nossa cidade;
  • instituições várias foram ao longo dos tempos instalando-se nesta rua, sendo de referir a Delegação Escolar, a Associação de Professores do Ensino Básico, Associação dos Antigos Alunos, Escola de Ensino Artístico Árvore, Sindicato dos Químicos, o Núcleo 25 do CNE, a igreja dos Redentoristas e Centro de Recolhimento de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro e ainda esta associação que e o Círculo de Arte e Recreio;

A “Casa dos Agras”

A Casa dos Agras era uma das muitas da opulenta família Martins das casas de Minotes e Aldão. Nela viviam D. Joana Luísa de Araújo Martins da Costa da Casa de Minotes viúva do Capitão Jerónimo Ribeiro Bernardes antes de seus filhos mandarem construir a casa nova no Largo de S. Bento por volta de 1927 com risco do pintor Roquemont, onde depois funcionaram os correios e que foi na década de 60 demolida para dar lugar ao edifício novo dos CTT.

Herdou a Casa da rua de Santa Luzia uma das filhas deste casal D. Ana Emília de Araujo Martins da Costa (1805-82) casada com o seu parente Francisco Ribeiro José de Abreu, senhor da Casa de Agra em S. Torcato. Na sua descendência conhecida pelos Agras de S. Torcato mantém-se esta casa onde ainda nasceu Luis Ribeiro Martins da Costa, pai de Vasco Burmester Martins da Costa entretanto falecido e seus dois filhos.

O Senhor Francisco “Agra”

O Senhor da casa de Agra sita á rua de Santa Luzia era Francisco Ribeiro Martins da Costa geralmente conhecido por Francisco Agra.

João Franco, seu correligionário político, refere-se-lhe nos seguintes termos:

“Chefe de politica local, as suas grandes demandas, as suas grandes batalhas pelejouas sempre em nome da terra que lhe fora berço ( .. . ).As nossas primeiras relações recordam o tempo em que alcançava de Fontes Pereira de Melo a colocação de um regimento e a organização de uma escola industrial na cidade de Guimarães. Depois e sucessivamente vieram a questão de autonomia municipal, o restabelecimento da Colegiada a sua transformação em liceu, a construção das avenidas (…)

A Casa de Agra foi local de frequência obrigatória dos influentes políticos locais, regionais e nacionais, tendo nela pernoitado o presidente Marechal Carmona quando da sua visita a Guimarães.

Tinha nascido, Francisco Agra a 3 de Julho de 1835 (dois anos mais novo que Martins Sarmento e, portanto seu contemporâneo e amigo). Matriculou-se em 1852 no 1º ano de filosofia e matemática na Universidade de Coimbra, sendo afastado da frequência das aulas por uma doença que o proibiu de continuar.

Atinge grande notoriedade ao projetar o Banco de Guimarães, em 1872, como instituição de créditos excecionais em todo o Norte.

E transcrevemos uma vez mais João Franco: “Entrei em 1884, pela primeira vez, no câmara dos deputados com o apoio de Francisco Agra sob a égide poderosa, e para os regeneradores de então quasi Augusta, de Fontes Pereira de Melo”.

Rapidamente, fez-se um esboço de retrato do homem que tinha uma residência a condizer com o seu estatuto de capitalista, monárquico e, sobretudo político influente, cujo o assassinato a 26 de Junho de 1901 deu muito que falar nos jornais da época e encontra-se relatado na coleção de Sousa Costa “Grandes Dramas Judiciais”. Este famoso caso judicial trouxe a Guimarães Afonso Costa, aquele que seria o futuro Presidente da República.

Francisco Martins da Costa um político e cidadão vimaranense, homem de grande integridade e princípios merecia ficar na memória dos seus concidadãos mais não fosse pela instalação em sede própria, de uma instituição cultural de prestígio, com tradições de intervenção cívica e cidadania, na sua principal residência na cidade: A Casa de Agra no coração do burgo, em Santa Luzia.

O Edifício da Casa de Agra

A Casa de Agra é pois uma referência irrecusável da vida pública Vimaranense. Pertence a freguesia de S. Paio e é um prédio de dois andares e aguas furtadas com uma área coberta de 482 m2 e um logradouro de 590 m2 numa área total de 1072 m2.

Há 20 anos (1976), o Círculo de Arte e Recreio tomou-a de aluguer para instalar com imperiosa dignidade a sua sede social.

Já então necessitava de obras de beneficiação que, ao longo dos anos foi realizando como imperiosa manutenção e valorização da sua sede social criando condições para uma habitabilidade do prédio sempre precária já que foi um esfoço permanente cuidar dos tetos em gesso ou em “masseira” ou manter e recuperar as paredes em tabique e soalhos em madeira mantendo-lhes a originalidade. Este esforço ao longo dos tempos onerou substancialmente as atividades e a dinâmica cultural promovida pela associação instalada: o CAR.

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